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Acredito que como eu, nestes tempos de isolamento voluntário, muitos têm refletido sobre suas dinâmicas de vida, em especial o consumo. Estas reflexões não estão sendo motivadas, como alguns tentam justificar que as baixas vendas se devem ao pavor desencadeado pelo isolamento, pela pandemia e pelos números diários de mortos, mas pelo amadurecimento e pela necessidade de revisão de padrões. Somos uma sociedade de consumo desmedido. Somos levados a acreditar que quanto mais consumimos, mais teremos retorno, por meio de impostos, em educação, saúde e segurança. No entanto, o que se vê é as grandes redes engolindo os negócios menores e aplicando seus lucros em outras cidades.
Rever os padrões de consumo é rever nosso papel de consumidor, como agente político. Fazer escolhas representa autonomia. É ser livre para decidir e deixar de condicionar necessidades e vontades a uma mídia que nos bombardeia com conceitos falsos, de que a volta à normalidade significa voltar às compras. Gandhi disse: "O mundo tem o suficiente para a necessidade de cada um, porém não tem o suficiente para a ganância de cada um". Na lógica da ganância, nossa sociedade prioriza o "ter" em vez do "ser".
Nossos sonhos se resumem a um carro novo, a uma casa grande, roupas de marca, viagens - status. As propagandas trazem estereótipos de beleza, perfeição e bens materiais, os quais passam a ser perseguidos. O "ser" ficou relegado a um plano inferior. Comprova-se pela falta de empatia e solidariedade que vai desde, estacionar só um pouquinho em lugar proibido a defender a abertura de lojas, em meio a uma pandemia que se aproxima de 3 mil mortos.
O consumo desenfreado é também destruidor do meio ambiente, conduzindo à exaustão de recursos naturais e à poluição. A quarentena levou à melhoria da qualidade do ar e de águas em vários locais do planeta, demonstrando que a atividade humana é a principal responsável pela degradação ambiental.
Diante dos dados, o ideal é que as empresas tirem do papel a sustentabilidade e, de fato, deem sinais concretos de equilíbrio entre os aspectos econômicos, ambientais e sociais. No entanto, o que se vê é a priorização da economia, ao ponto de confundir as pessoas de que a falência do sistema econômico representa riscos à vida. Forçando um sentimento de culpa pela redução de consumo e não, como uma evidência para rever um modelo de produção que requer transformação. Forçam mais uma vez a associação de felicidade e consumo. O novo normal não representa voltar às compras tomando medidas de distanciamento, oferecendo álcool gel e evitando aglomeração.
O novo normal representa uma nova postura frente a nossas práticas, sobretudo em consumir o essencial, o local, produtos e em empreendimentos que respeitem pessoas (colaboradores e consumidores) e o meio ambiente. Negócios que estão em sintonia com os problemas da sociedade em que estão instalados, e não somente interessados em vendas e lucros. A hora é de proteger a vida, nosso bem maior.